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Sophia Amoruso
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Sophia Amoruso passou a adolescência viajando de carona, furtando em lojas e revirando caçambas de lixo. Aos 22 anos ela havia se conformado em ter um emprego, mas ainda estava sem grana, sem rumo e fazendo um trabalho medíocre que assumiu por causa do seguro-saúde. Foi aí que Sophia decidiu começar a vender roupas de brechó no eBay. Oito anos depois, ela é a fundadora, CEO e diretora criativa da Nasty Gal, uma loja virtual de mais de 100 milhões de dólares, com mais de 350 funcionários. Além da história de Sophia, o livro cobre vários outros assuntos e prova que ser bem-sucedido não tem nada a ver com a sua popularidade; o sucesso tem mais a ver com confiar nos seus instintos e seguir a sua intuição. Uma história inspiradora para qualquer pessoa em busca do seu próprio caminho para o sucesso.
Kategorie:
Rok:
2015
Wydanie:
1ª
Wydawnictwo:
Editora Seoman
Język:
portuguese
Strony:
326
ISBN 10:
8555030080
ISBN 13:
9788555030086
Plik:
EPUB, 3.35 MB
Twoje tagi:
Ściągnij (epub, 3.35 MB)
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[image: ] [image: ] Copyright © 2014, Sophia Amoruso Copyright da edição brasileira © 2015, Editora Pensamento-Cultrix Ltda. Texto de acordo com as novas regras ortográficas da língua portuguesa. 1ª edição 2015. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas. A Editora Seoman não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro. Coordenação editorial: Manoel Lauand Projeto gráfico: Alissa Rose Theodor Capa: Christopher Sergio Foto da Capa: Gabrielle Revere Editoração eletrônica: Estúdio Sambaqui Produção de ebook: S2 Books Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Amoruso, Sophia #Girlboss : a inspiradora história da executiva de 100 milhões de dólares, CEO do site Nasty Gal / Sophia Amoruso ; tradução Ludimila Hashimoto. -- 1. ed. -- São Paulo : Seoman, 2015. Título original: #Girlboss. ISBN 978-85-5503-005-5 1. Administração 2. Amoruso, Sophia 3. Habilidade executiva 4. Mulheres executivas - Manuais, guias etc. 5. Lojas - Administração 6. Mulheres - Autobiografia 7. Mulheres - Trabalho - Promoção 8. Mulheres executivas I. Título. 15-00860 CDD-658.4090 Índices para catálogo sistemático: 1. Mulheres executivas : Autobiografia 658.4090 1ª edição digital 2015 e-ISBN: 978-85-5503-008-6 Seoman é um selo editorial da Pensamento-Cultrix EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA. R. Dr. Mário Vicente, 368 – 04270-000 – São Paulo, SP ; Fone: (11) 2066-9000 – Fax: (11) 2066-9008 E-mail: atendimento@editoraseoman.com.br http://www.editoraseoman.com.br que se reserva a propriedade literária desta tradução. Foi feito o depósito legal. Para as nossas clientes. Pois sem elas eu nunca teria me tornado uma #GIRLBOSS. ÍNDICE Capa Folha de rosto Créditos Dedicatória Introdução: A Cronologia de uma #GIRLBOSS 1- Então Você Quer Ser uma #GIRLBOSS? 2- Como Eu Me Tornei uma #GIRLBOSS 3- Empregos Sofríveis Salvaram Minha Vida 4- Furtos em Lojas (e Pegar Carona) Salvaram Minha Vida 5- O Dinheiro Fica Melhor no Banco do que nos Seus Pés 6- Abracadabra: O Poder do Pensamento Mágico 7- Eu Sou a Antifashionista 8- Sobre Contratar, Permanecer Empregada e Demitir 9- Cuidando do (Seu) Negócio 10- Criatividade em Tudo 11- As Probabilidades Agradecimentos Conheça outros títulos da editora em: # GIRLBOSS [image: ] Pulverizar a concorrência é o meu vício Itrodução: A Cronologia de uma #GIRLBOSS 1 A Cronologia de uma #GIRLBOSS? Eu sou mau e isso é bom. Eu nunca serei bom e isso não é ruim. Eu não preferiria ser ninguém além de mim mesmo. — Detona Ralph 1984: Nasci em San Diego numa Sexta-feira da Paixão, que também era 20/4[1] . Antes que você pense que isso foi um presságio, deixe-me assegurar que o meu único vício é pulverizar a concorrência. 1989: Esfrego cocô na parede do jardim da infância. Talvez a minha primeira expressão artística verdadeira. 1993: A professora da terceira série acha que eu poderia ter algum problema. A lista inclui Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) e Síndrome de Tourette. 1994: Meu pai me leva ao Wal-Mart, onde pergunto a um representante de vendas se eles têm “os bonecos Ren e Stimpy que flatulam”. Isso é uma evidência de que eu tenho tanto um vocabulário extenso quanto um senso de humor levemente distorcido. 1997: Eu me apaixono pela minha primeira peça de roupa vintage : uma calça estilo discoteca vermelho-caqui, que eu vestia em segredo no banheiro do rinque de patinação. 1999: Arrumo o meu primeiro emprego, num Subway. Fico com TOC por causa do BLT (sanduíche de bacon, alface, tomate). 2000: Odeio o ensino médio e me mandam a um psiquiatra, que me diagnostica com depressão e déficit de atenção. Experimento as pílulas brancas. Depois as azuis. Decido que, se é disso que eu vou precisar para gostar do ensino médio, esqueça. Jogo as pílulas fora e decido estudar em casa. 2001: Meus pais se divorciam. Acho normal e aproveito a oportunidade para sair de casa e me virar sozinha. Escolho um apartamento no centro de Sacramento com um bando de músicos. Meu quarto é um armário debaixo da escada e o meu aluguel é de 60 dólares por mês. 2002: Viajo pegando carona pela Costa Oeste e finalmente paro no Noroeste Pacífico. Levo uma vida de catar coisas no lixo (não despreze um bagel que foi de graça antes de provar um) e pequenos furtos. 2002: Faço a minha primeira venda virtual. É um livro roubado. 2003: Sou detida por furtar numa loja. Abandono o hábito de repente. 2005: Deixo meu namorado em Portland e me mudo para São Francisco, onde sou demitida de uma loja de sapatos sofisticada. 2006: Tenho hérnia, o que significa que preciso arrumar um emprego para ter seguro-saúde. Encontro um de checar RGs na portaria de uma escola de artes. Tenho muito tempo para matar, então fico de bobeira na Internet e abro uma loja no eBay chamada Nasty Gal Vintage. 2014: Sou a CEO de um negócio de mais de 100 milhões de dólares com um escritório de 4.600 m² em Los Angeles, um centro de processamento e distribuição em Kentucky e trezentos e cinquenta funcionários. (Inserir aqui o som de um LP sendo riscado.) Estou deixando alguns detalhes de fora, obviamente, mas se eu contasse tudo na introdução, não haveria necessidade de ler o resto do livro, e eu quero que você leia o resto do livro. Mas é verdade: Em cerca de oito anos, eu passei de uma freegan [2] dura e anarquista determinada a destruir o sistema, para uma mulher de negócios milionária que hoje fica tão à vontade na sala da diretoria quanto no provador. Eu nunca pretendi ser um exemplo, mas há partes da minha história — e as lições que aprendi com ela —, que eu quero compartilhar. Do mesmo modo que, nos últimos sete anos, as pessoas têm se projetado nos looks que eu vendo através da Nasty Gal, quero que você use o #GIRLBOSS para se projetar numa vida incrível em que você possa fazer o que quiser. Este livro vai ensiná-la a aprender com os próprios erros e com os erros dos outros (os meus, por exemplo). Vai ensiná-la a saber quando parar e quando pedir mais. Vai ensiná-la a fazer perguntas e não pressupor nada sem esclarecer antes, a saber quando seguir as regras e quando reescrevê-las. Vai ajudá-la a identificar as suas fraquezas e usar os seus pontos fortes. Vai lhe mostrar que a vida tem uma certa ironia. Por exemplo, eu comecei um negócio na Internet para poder trabalhar em casa... sozinha. Agora, falo com mais gente num dia de trabalho do que eu falava num mês inteiro. Mas não estou reclamando. Este livro não vai ensiná-la como ficar rica rapidamente, como entrar na indústria da moda ou começar um negócio. Não se trata de um manifesto feminista nem uma autobiografia. Não quero gastar muito tempo relembrando o que eu já fiz porque ainda há tanta coisa por fazer. Este livro não vai ensinar como se vestir de manhã — esse livro virá, mas só depois que você disser a todos os seus amigos para comprar este. Enquanto você está lendo isto, tenho três conselhos que quero que você lembre: Nunca vire gente grande. Não vire uma pessoa chata. Nunca deixe o Sistema te dominar. OK? Beleza. Então vamos começar. #GIRLBOSS pra vida toda. [image: ] Uma #GIRLBOSS sabe quando dar o soco e como receber o golpe 1- Então Você Quer Ser uma #GIRLBOSS? 1 Então Você Quer Ser uma #GIRLBOSS? A vida é curta. Não seja preguiçosa. — Eu Q uer dizer que você quer ser uma #GIRLBOSS? Vou começar dizendo duas coisas. Primeiro: Que ótimo! Você já deu o primeiro passo na direção de uma vida incrível simplesmente por querer essa vida. Segundo: Esse é o único passo que vai ser fácil. Tem uma coisa importante sobre ser uma #GIRLBOSS — não é fácil. É preciso trabalhar muito para chegar lá. Mas, afinal, quem tem medo de trabalhar muito? Eu sem dúvida nenhuma não tenho, e tenho certeza que você também não. Ou, se tiver, tenho certeza que este livro vai fazer você mudar de ideia de modo que, no fim do último capítulo, você vai estar praticamente gritando: “Onde tem trabalho!?! Eu quero trabalho e quero começar já!” Uma #GIRLBOSS é alguém que é responsável pela própria vida. Ela consegue o que quer porque trabalha para isso. Como #GIRLBOSS, você assume o controle e aceita a responsabilidade. Você é uma lutadora — sabe quando dar o soco e como receber o golpe. Às vezes você descumpre as regras, às vezes você obedece, mas nas condições que você estabelece. Você sabe aonde vai, mas não consegue ir sem se divertir no caminho. Você valoriza mais a honestidade que a perfeição. Você faz perguntas. Você leva a vida a sério, mas não se leva a sério demais. Você vai ter que dominar o mundo e modificá-lo no processo. Você é foda. Por que você deveria me ouvir? As mulheres são anarquistas e revolucionárias por natureza. — Kim Gordon Se houvesse regras para ser uma #GIRLBOSS — e não há — uma delas seria questionar tudo — inclusive a mim. Estamos definitivamente começando bem. Eu sou a fundadora, CEO e diretora criativa da Nasty Gal. Eu desenvolvi essa empresa sozinha em apenas sete curtos anos, e tudo antes de completar trinta anos. Eu não tenho uma origem rica nem estudei em escolas renomadas e não tive nenhum adulto me dizendo o que fazer no caminho. Eu descobri sozinha. A Nasty Gal recebeu muita atenção da imprensa, mas a história costuma ser contada como um conto de fadas. Menina ingênua e sagaz que passa de gata borralheira a Cinderela? Confere. Príncipe Encantado? Se estivermos falando do meu investidor, Danny Rimer, da Index Ventures, confere. Muitos sapatos? Confere. E não me incomoda — imprensa é ótimo — mas eu tomo cuidado para não reforçar a percepção de que tudo isso aconteceu do dia para a noite e que simplesmente aconteceu comigo. Não me leve a mal: Sou a primeira a admitir que tive sorte em muitos aspectos, mas tenho que enfatizar que nada disso foi um acidente. Foram necessários anos vivendo com as unhas sujas de escavações entre peças de brechós, algumas queimaduras dolorosas ao passar roupas e muitos lenços de papel velhos, escondidos no bolso do casaco, para conseguir chegar lá. Não faz muito tempo, alguém me disse que eu tinha a obrigação de levar a Nasty Gal o mais longe possível porque sou um modelo para as meninas que querem fazer coisas legais com a própria vida. Ainda não sei como me sentir em relação a isso porque, durante a maior parte da minha vida, eu nem sequer acreditava no conceito de alguém ser um modelo para os outros. Não quero ser colocada num pedestal. Seja como for, eu tenho TDA demais para ficar lá em cima: prefiro estar fazendo bagunças e fazendo história ao mesmo tempo. Não quero você, #GIRLBOSS, admirando algo que está no alto, porque isso pode manter você embaixo. A energia que você vai gastar focando na vida de outra pessoa é mais bem gasta trabalhando sozinha. Seja apenas o seu próprio ídolo. Estou contando a minha história para você lembrar que se manter na linha não é o único caminho para o sucesso. Como você verá no resto do livro, eu não recebi muitos elogios e louvores quando estava crescendo. Já larguei a escola, já fui nômade, ladra, uma porcaria de aluna e uma funcionária preguiçosa. Estava sempre metida em confusão quando criança. Desde socar a barriga da minha melhor amiga quando ela derrubou a minha massinha (eu tinha quatro anos) até ser dedurada por botar fogo num spray de cabelo numa reunião de família (culpada), era normal eu ser o mau exemplo. Quando adolescente, eu era um poço de ansiedade, e adulta, sou basicamente um Larry David de ascendência grega, jovem e de salto alto — incapaz de esconder desconforto, insatisfação e dúvida, não consigo deixar de ser eu mesma e tenho um excesso de sinceridade. Tentei o trajeto óbvio de empregos pagos por hora e faculdade comunitária, e simplesmente nunca funcionou para mim. Havia tanto tempo que me diziam que o caminho para o sucesso era formado por uma série de lacunas que a pessoas vai ticando, começando com obter um diploma e arrumar um emprego, e à medida que eu ia tentando e falhando nesses itens, às vezes parecia que eu estava destinada a uma vida de fracasso. Mas sempre desconfiei que eu estava destinada, e era capaz de algo maior. Esse algo acabou sendo a Nasty Gal, mas quer saber? Eu não encontrei a Nasty Gal, eu a criei. Abandone qualquer coisa da sua vida e dos seus hábitos que possa estar prendendo você. Aprenda a criar as suas próprias oportunidades. Saiba que não existe uma linha de chegada. A ação favorece a sorte. Corra com toda a sua força rumo à vida extraordinária com que você sempre sonhou, ou com a qual ainda não teve tempo de sonhar. E se prepare para se divertir até dizer chega no caminho. O título deste livro é #GIRLBOSS . Isso significa que se trata de um manifesto feminista? Meu Deus. Acho que temos que falar sobre isso. #GIRLBOSS é um livro feminista e a Nasty Gal é uma empresa feminista no sentido que eu encorajo você, enquanto menina, a ser quem você quiser e fazer o que você quiser. Mas não estou aqui me referindo a nós como “womyn”[3] , nem culpando os homens por qualquer uma das minhas dificuldades ao longo do caminho. Nunca na minha vida achei que ser mulher fosse algo que eu tivesse que superar. A minha mãe cresceu cozinhando e limpando a casa enquanto seus irmãos aproveitavam a infância. Na experiência da minha mãe, ser mulher era definitivamente uma desvantagem. Talvez porque o meu pai e a minha mãe trabalhavam em período integral ou porque eu não tinha irmãos, nunca presenciei esse tipo de favoritismo. Sei que gerações de mulheres lutaram pelos direitos que eu aceito sem me dar conta do devido valor, e que em algumas partes do mundo nunca se teria acesso a um livro como este. Eu acredito que a melhor forma de honrar o passado e o futuro dos direitos das mulheres é botando a mão na massa. Em vez de ficar sentada, falando sobre como eu me importo, vou arrebentar e provar. A minha primeira reação a quase tudo na vida tem sido “não”. Para que eu aprecie as coisas de forma completa, tenho que rejeitar primeiro. Pode chamar de teimosia, mas é o único jeito com que consigo tornar algo meu — convidá-lo para o meu mundo em vez de receber de mão beijada. Aos dezessete anos, eu escolhi ter as pernas peludas em vez de usar salto alto e tinha hábitos de higiene que poderiam ser mais bem descritos como “punk cascão”. Eu usava roupas masculinas que comprava no Wal-Mart. Nas raras ocasiões em que um cara abria a porta para mim, eu recusava, ofendida, tipo “Eu consigo abrir a porta sozinha, muito obrigada!” E sejamos honestas, isso não é ser feminista, é somente ser grossa. Hoje eu sei que deixar alguém abrir a porta para mim não me torna nem um pouco menos independente. E quando uso maquiagem, não estou fazendo isso para me encaixar nos ideais patriarcais de beleza feminina. Faço isso porque me faz sentir bem. Esse é o espírito da Nasty Gal: Queremos que você se vista para você mesma e saiba que não é superficial se dedicar à própria aparência. Estou lhe dizendo que você não precisa escolher entre ser inteligente e ser sexy . Você pode ter as duas coisas. Você é as duas coisas. Hoje temos uma nova era do feminismo em que não precisamos falar no assunto? Eu não sei, mas quero fingir que sim. Não vou mentir — é ofensivo ser elogiada por ser uma mulher sem diploma universitário. Por outro lado, também tenho consciência de que eu me beneficio com isso: Posso comparecer a uma reunião e deixar as pessoas de queixo caído simplesmente sendo eu mesma, uma pessoa educada nas ruas. Eu, assim como outras inúmeras meninas que ainda vão se tornar uma #GIRLBOSS, não faremos isso nos lamentando — mas lutando. As pessoas não levam você a sério porque você pede para ser levada a sério. Você tem que dar as caras e arrebentar. Se este é um mundo dos homens, quem se importa? Ainda assim, sou muito feliz de ser uma garota neste mundo. A Teoria da Corda Vermelha Eu entrei na vida adulta acreditando que o capitalismo era uma fraude, mas depois descobri que é uma espécie de alquimia. Você combina trabalho duro, criatividade e determinação, e as coisas começam a acontecer. E quando você começa a entender essa alquimia, começa a ver o mundo de uma forma diferente. No entanto, acho que sempre vi o mundo de uma forma diferente. Minha mãe diz que quando eu tinha cinco anos, peguei uma cordinha vermelha e corri pelo parque arrastando a corda atrás de mim. Todas as outras crianças perguntaram o que era aquilo e eu disse que era uma pipa. Logo todos tinham uma cordinha vermelha e todos corremos juntos com as nossas pipas altas no céu. Se eu, e este livro, temos alguma coisa a provar é que quando você acredita em você mesmo, as outras pessoas também acreditam em você. [image: ] [image: ] TÉDIO 2- Como Eu Me Tornei uma #GIRLBOSS 2 Como Eu Me Tornei uma #GIRLBOSS? Os Primeiros Dias: Hérnias, Pechinchas e a Coelhinha Triste Então você decidiu assumir uma nova responsabilidade e começar um negócio no eBay. Primeiro deve decidir quanto tempo tem para dedicar a isso. Sugiro que não peça demissão do emprego atual (ainda). — Starting an eBay Business For Dummies S e for para ser totalmente sincera aqui — e é exatamente o que estou sendo, totalmente sincera — a Nasty Gal começou porque eu tive hérnia. Eu morava em São Francisco, estava desempregada, quando descobri de repente que tinha uma hérnia inguinal. Eu usava muito calças superjustas na época e a hérnia ficava visível até quando eu estava vestida — um carocinho na virilha. Uma vez até depilei todo o pelo púbico com lâmina, menos o que cobria o caroço. Eu claramente não estava nem aí. Brincadeiras à parte, porém, eu sabia que a hérnia era uma enfermidade que exigia tratamento e que, para conseguir o tratamento, eu precisaria ter seguro-saúde. Para conseguir o seguro, eu precisaria de um emprego. Um emprego de verdade. [image: ] Onde tudo começou: a portaria de uma escola de artes; um corte de cabelo extraterrestre; e uma conexão com a Internet. Encontrei um trabalho que consistia em checar RGs na portaria de uma escola de artes e comecei a cumprir os noventa dias necessários de carência para que os benefícios do emprego pudessem ser usados. Como você deve imaginar, checar RGs não era um trabalho muito estimulante, então eu tinha tempo de sobra para ficar de bobeira na Internet. O MySpace estava em alta na época (meu nome de usuário era WIG-WAM). A certa altura, comecei a notar que recebia muitas solicitações de amizade de vendedores do eBay com o objetivo de promover lojas de roupa vintage para garotas como eu. Noventa dias depois, consegui o seguro-saúde, resolvi a hérnia e saí correndo dali. Durante o meu período de recuperação, eu me mudei de onde estava morando e, para o meu desgosto e o da minha mãe, passei um mês na casa dela. Eu não tinha nenhuma renda nem planos. Mas, nossa, como eu tinha tempo. Eu me lembrei das solicitações de amizade que foram se acumulando, dos vendedores de roupas vintage , e pensei: Caramba, eu posso fazer isso! Eu tinha experiência com fotografia. Tinha amigas bonitas para servirem de modelo. Eu só usava roupas vintage e já conhecia o caminho das pedras. E era especialista em garimpar essas peças. A primeira coisa que fiz foi comprar um livro: Starting an eBay Business For Dummies [Como Começar um Negócio no eBay Para Principiantes], que me ensinou como montar a minha loja. A primeira tarefa era escolher um nome. Muitas das lojas vintage que já estavam no eBay eram tão hippies que doía, com nomes como Dama na Grama Alta Vintage ou Irmã Corvo do Espírito da Lua Vintage. Então o meu lado do contra pegou o teclado e deu à minha futura loja o nome de Nasty Gal Vintage, inspirado no meu disco favorito da lendária cantora de funk , a fantástica Betty Davis. Ela provavelmente é mais conhecida por ter sido ex-mulher de Miles Davis, mas foi sua música (ela tinha talvez a melhor seção rítmica da sua época), sua atitude sexy de quem não deve nada a ninguém e seu jeito franco que me fizeram virar sua fã. Ela se apresentava de lingerie e meia arrastão, e seu gesto característico era um chute alto no ar com salto plataforma nos pés, ela era totalmente #GIRLBOSS. Ela tinha músicas chamadas “Your Mama Wants You Back” [Sua Mulher Te Quer de Volta], “Don’t Call Her No Tramp” [Não Chame Ela de Vagabunda, Não] e “They Say I’m Different” [Dizem que Sou Diferente]. Ela compunha as próprias músicas, escrevia as letras e também produzia as canções, o que era algo quase inédito para uma artista mulher no meio musical dos anos 1970. Por mais fora de série que Betty Davis fosse, ela estava simplesmente muito adiante do seu tempo para chegar a ter um sucesso mainstream . Eu achei que estivesse só escolhendo um nome para uma loja no eBay, mas acabou que, na verdade, eu estava infundindo não apenas o meu espírito, mas o espírito dessa mulher incrível na marca como um todo. No momento em que eu abri a loja, o vintage vinha fazendo parte da minha vida havia muito tempo. Sempre tive uma queda por coisas velhas e as histórias que elas carregam. Meu avô administrava um hotel de beira de estrada em West Sacramento e o meu pai foi um dos sete filhos que cresceu cuidando do lugar. Quando eu era pequena, fomos até lá para conhecer e havia um quarto de tralhas cheio de mágica — um antigo tabuleiro Ouija, camisetas dos anos 1970 de manga curta e estampas loucas aplicadas com ferro, a coleção de moedas antigas da minha tia. Eram só coisas que crianças que cresceram nos anos 1960 e 70 deixaram lá, mas eu achava fascinante. [image: ] Criatura bizarra usando poliéster sobre criatura bizarra usando poliéster. Adolescente, eu preferia roupas de brechó a roupas novas, uma preferência que deixava a minha mãe totalmente perplexa. Ela enfrentava incontáveis idas ao shopping numa tentativa vã de me vestir, e lá eu pegava uma blusa de 50 dólares e informava a ela que aquilo simplesmente “não valia o preço”. Se a Nasty Gal existisse na época, acho que teria encontrado muitas coisas com as quais minha mãe pudesse gastar seu dinheiro, mas o shopping era um lugar chato. Aquele punhado de lojas, em que parecia haver uma placa escrita “normal”, não atendia as minhas expectativas, e a ideia de pagar para ficar parecida com todo mundo era completamente ridícula. Finalmente, chegamos a um acordo. Embora ela considerasse os brechós “fedidos”, concordou em esperar do lado de fora enquanto eu comprava. No entanto, isso não significava que ela sempre aprovava as minhas escolhas. Eu me lembro claramente de ter sido humilhada na frente de uma amiga quando ela exigiu que eu subisse de volta para o meu quarto para trocar de camisa — não por ter achado decotada demais ou inadequada sob qualquer aspecto, mas porque achou que a minha blusa marrom de poliéster com estampa paisley era obviamente feia. Quando estava com vinte e poucos anos, eu praticamente só usava vintage . Em São Francisco, minhas amigas e eu escolhíamos uma década e ficávamos nela. Ouvíamos música velha, andávamos de carro velho e usávamos roupas velhas. A minha década era 1970. Eu tinha um cabelo longo estilo rock and roll dividido ao meio e usava um uniforme que era a minha calça nova de poliéster e cintura alta comprada no eBay, sapatos de salto plataforma e frente única vintage . Com a nova loja, eu levei o brechó a um nível totalmente novo. Na Craigslist, encontrei uma companhia de teatro que estava encerrando e fechei negócio adquirindo um grande lote de artigos vintage . Acrescentei algumas das minhas próprias peças nesse monte de capas de lã e vestidos Gunne Sax e, de repente, eu tinha um estoque. Fui à Target e comprei algumas caixas da Rubbermaid, pregadores de roupa, um vaporizador e uma arara, e comecei a trabalhar na minha primeira rodada de lances. Empreguei a minha mãe, formando uma linha de montagem primitiva. Eu lia as medidas de uma roupa e ela escrevia num pedacinho de papel e prendia na roupa com alfinete. A minha primeira modelo foi Emily, uma garota deslumbrante, namorada de um amigo meu na época. Coberta de tatuagens, de cabelo longo e uma franja linda, ela era uma escolha pouco comum — mas era ótima. Fotografei uns dez itens, depois coloquei a descrição, medidas e outras informações no eBay e esperei os dez dias de leilão se passarem, respondendo enquanto isso às perguntas superanimadas das minhas primeiríssimas clientes. A cada semana eu ia ficando mais rápida, mais esperta e mais consciente do que as mulheres queriam. E a cada semana os meus leilões tinham resultados melhores. Se vendesse, beleza — eu iria de imediato encontrar mais coisas parecidas. Se não vendesse, eu nunca mais iria comprar algo semelhante. Foi chocante, mas notei que meninas bonitas não querem usar casacos de lã mexicanos com capuz (“drug rugs”), os moletons dos ratos de praia que alguns preferem chamar de baja hoodies . Era viciante: para uma fanática por adrenalina como eu, não havia nada comparável à satisfação instantânea de assistir aos meus leilões ao vivo. Vasculhei a Craigslist em busca de vendas de espólios, depois fiz um mapa, começando pelo que parecesse ser da pessoa que morreu mais velha. Eu aparecia às seis da manhã e ficava na fila com pessoas que eram todas pelo menos vinte anos mais velhas que eu. Quando as portas se abriam, todo mundo começava a procurar toalhinhas de crochê, enquanto eu corria direto para o guarda-roupa para desenterrar casacos vintage , minivestidos Mod, vestidos de discoteca da era Halston e muitos trainings estilo Golden Girls [Super Gatas ]. Eu juntava as coisas, pechinchava, pagava e ia embora. Freguesa dos brechós também, eu esperava os funcionários entrarem pelos fundos com carrinhos de supermercado cheios de mercadorias que haviam acabado de pôr o preço. E, quando estavam com os braços carregados de roupas para pendurar nas araras, vapt: eu ia correndo verificar que mistérios me aguardavam. Uma vez, achei duas jaquetas Chanel no mesmo carrinho. Flip, flip, flip... jaqueta Chanel ... flip, flip, flip... mais uma! Paguei 8 dólares em cada. Registrei cada jaqueta com um lance inicial de 9,99 dólares e vendi por mais de 1.500 dólares. Eu não sabia o que era “margem bruta”, mas sabia que de alguma coisa eu entendia. Em retrospectiva, acho que eu devia ser a pior cliente do brechó porque eu não apenas era sorrateira, como também pechinchava. “Esse suéter está com um furo”, eu dizia, após andar determinada até o balcão. “Pode me dar dez por cento de desconto?” Mesmo se fosse uma questão de cinquenta centavos, valia a pena para mim. Cada centavo contava. Aos vinte e dois anos, eu voltei para o subúrbio, um lugar de onde apenas quatro antes eu fugira gritando. O espaço estava escasso em São Francisco, então montei a loja em Pleasant Hill, na Califórnia, a uma hora dos meus amigos. Aluguei um “puxadinho” sem cozinha — pagava 500 dólares por mês e abarrotei o lugar de vintage . Eu trabalhava na cama, que ficava coberta de roupas, cercada de materiais de embalagem. Era uma zona total: caixas equilibradas em cima de um forninho, em cima de um frigobar, como um jogo Jenga de objetos de casa. Todo dia, eu e meu coque íamos de carro a uma loja Starbucks e pedíamos um Chai de Soja, sem espuma e sem água, tamanho Venti. Dependendo do tempo, era gelado ou quente, mas teve um período de uns cinco anos em que eu tomava pelo menos um desses todo santo dia. Para comer, eu vestia um suéter embolorado com uma etiqueta de 4,99 pendurada, esquecia que isso era algo estranho de se fazer, e ia ao Burger Road, minha lanchonete favorita na cidade. Nunca pensei muito no fato de estar gastando 100 dólares por mês na Starbucks ou que estivesse perdendo alguma coisa pelo fato de estar tão devagar em minha vida social. Eu estava viciada no meu negócio e em vê-lo crescer todos os dias. Quando eu não estava fora, adquirindo mercadorias, estava em casa, adicionando amigos no MySpace. Minha vestimenta favorita originou-se do meu estilo de vida recém-descoberto, desprovido de qualquer necessidade de tomar banho, me vestir ou ter boa aparência. A Coelhinha Triste, como Gary, meu namorado na época, chamava o look , era um roupão de banho grande e felpudo, estilo “tiazona”, que ia até o chão. Eu às vezes acrescentava uma toalha cor-de-rosa na cabeça se tivesse tomado banho naquele dia — então, se você é uma das sessenta mil garotas que adicionei no MySpace naquela época, me desculpe. A Nasty Gal Vintage era administrada por uma mutante workaholic vestida como o Coelho da Páscoa. Eu tinha um software para adicionar amigos, que era totalmente contra a política do MySpace. Eu procurava, digamos, as amigas de uma it girl e adicionava apenas garotas de uma certa faixa etária em determinadas cidades. A cada dez novas amigas, eu tinha que digitar o código CAPTCHA para provar que eu era uma pessoa real e não um computador enviando spams . Na verdade, eu era um pouco culpada por ser os dois. Quando eu sugava amigos o suficiente de uma revista ou músico ou marca ou it girl , passava a outro. A Coelhinha Triste e eu ficávamos na região, digitando códigos CAPTCHA e vendo a nossa contagem de amigos subir à medida que as garotas iam aceitando. Eu logo tinha dezenas de milhares de amigas no MySpace, o qual eu usava para direcionar as pessoas à loja no eBay. Eu fazia um boletim no MySpace e um post no blogue para cada leilão que começava na Nasty Gal Vintage. Eu não percebia na época, mas o que eu estava fazendo incluía duas técnicas para administrar um negócio bem-sucedido: identificando o público-alvo e sabendo como fazer marketing de graça. Eu também respondia a cada comentário que qualquer pessoa deixasse na minha página. Simplesmente parecia ser educado. Muitas empresas estavam gastando milhões de dólares na tentativa de usar as mídias sociais e eu só segui os meus instintos e tratei as clientes como se fossem minhas amigas. Mesmo sem nenhum gerente me observando para me dar uma estrela pelo empenho, era importante me esforçar ao máximo. Quem se importa se uma árvore cai na floresta e ninguém ouve? Ainda assim, a árvore cai. Se você acredita que o que está fazendo terá resultados positivos, terá — mesmo que não seja imediatamente óbvio. Quando você mantém no trabalho o mesmo padrão que mantém como amiga, namorada, estudante ou qualquer outra coisa, a recompensa vem. Toda semana, um dia inteiro era para tirar fotos na entrada da garagem, com a porta azul como pano de fundo. A noite anterior era dedicada à seleção de uma mistura interessante de peças vintage , cuidando para que dois itens semelhantes jamais competissem um com o outro, para que eu fosse capaz de maximizar a potência de cada um. As modelos eram selecionadas via MySpace e eu pagava a elas com uma ida ao Burguer Road após a sessão de fotos. Como eu não era apenas a estilista, mas a fotógrafa também, desenvolvi um talento especial para abotoar roupas com uma das mãos, enquanto segurava a câmera com a outra. [image: ] Quando pagar as modelos com hambúrgueres não dava certo, eu mesma ia para a frente da câmera. Eu produzia as modelos como se elas fossem garotas reais que tivessem aparecido numa sessão de fotos editorial. Com o meu toque, uma parca tamanho extragrande se transformava em Comme des Garçons e uma calça de esquiar virava Balenciaga. A silhueta era sempre o elemento mais importante nas minhas fotos. Era crucial no eBay porque era o que se destacava quando clientes em potencial davam zoom nas fotos minimizadas, parando menos de um microssegundo para pensar em cada item. E quanto mais eu prestava atenção em fotografia de moda, mais eu percebia que a silhueta é o que faz qualquer coisa dar certo. Se a silhueta é favorável, não importa se a pessoa que está usando não tem proporções de modelo de passarela. Eu me lembro de estar fuçando uma loja de roupas vintage em São Francisco quando a vendedora confessou que buscava inspiração para se vestir antes de sair visitando a Nasty Gal Vintage. Comecei a perceber que, embora eu nunca tivesse tido a intenção, estava fornecendo às minhas clientes um serviço de orientação de estilo. Porque eu incluía cada peça de roupa numa produção dos pés à cabeça, do cabelo aos sapatos, mostrando também às meninas como se produzir. E ainda que dificilmente você me ouça defendendo a prestação de serviços gratuitos, essa percepção foi uma das mais profundas e bem-vindas que já tive com o negócio. Eu sempre soube que a Nasty Gal Vintage era mais do que só vender coisas, mas isso foi a prova: Na verdade, estávamos ajudando as meninas a montar um visual e a se sentirem ótimas antes de saírem de casa. A primeira vez que eu quis fazer o papel de estilista, cedendo o controle a outro fotógrafo, fiz um amigo para a vida toda no processo. Quando descobri o site de Paul Trapani, ele já era um fotógrafo freelance bem-sucedido que fazia editoriais para revistas. Imaginei que as chances fossem muito baixas, mas o telefone dele estava no site e eu liguei. Fiquei chocada quando ele atendeu e disse que já tinha ouvido falar da Nasty Gal Vintage — àquela altura, eu era apenas uma garota num quarto com algumas dezenas de clientes doidas, muito longe de qualquer coisa que eu esperasse que alguém como Paul tivesse ouvido falar. Além disso, ele estava disposto a trabalhar por permuta, para usar as fotos para o portfólio dele, se eu contratasse as modelos, encontrasse uma locação e produzisse tudo à perfeição. Embora eu tivesse pessoas seguindo a loja com devoção no eBay e os meus leilões estivessem começando a fechar em preços cada vez mais altos, a Nasty Gal Vintage ainda era uma empresa de fundo de quintal. No entanto, quando a oferta de um hambúrguer de graça não era suficiente para convencer uma potencial modelo, a promessa de uma tarde divertida (e algumas fotos deslumbrantes dela) costumava ser. Recrutei Lisa, uma morena bonita de 1,65 m com olhos de gazela e lábios salientes, para ser a modelo, e seguimos para Port Costa. Port Costa é uma cidadezinha remota na East Bay que, para quem não conhece bem, poderia parecer que é ocupada somente por membros da gangue de motoqueiros Hell’s Angels. Tem um bar chamado Warehouse com trezentos tipos de cerveja e um urso empalhado, o hotel de beira de estrada e só. Um antigo bordel foi convertido no hotel de beira de estrada, e cada quarto ainda tinha o nome das profissionais, como o quarto Bertha e o quarto Edna, e foi ali que fizemos as fotos. O pano de fundo era uma mistura de um incrível papel de parede floral antigo com sofás surrados dos anos 1980, e a luz era dura, com o flash da câmera suavizado pelo sol fraco filtrado pela janela. Eu até fiz uma ponta como modelo em algumas fotos, e nos divertimos demais. Muita gente pressupõe que trabalhar em casa é como estar de férias, que você faz o que quer quando quer. Esse não era o meu caso. As demandas do eBay me prendiam aos horários mais rígidos que já enfrentei. Como os meus leilões eram cronometrados, as consequências de perder um prazo eram muito reais. O horário nobre para os leilões começarem ao vivo era a noite de domingo. Se o meu começasse atrasado, isso significava que as minhas clientes, que provavelmente estavam esperando para agarrar o meu lote mais recente de preciosidades vintage , poderiam ficar decepcionadas e passar a fazer negócios com outro vendedor. Se eu demorasse demais para responder a uma indagação de uma cliente, ela poderia ficar impaciente e decidir fazer um lance em outra peça. Demorar para despachar pedidos poderia resultar em críticas negativas, e se eu não passasse e arrumasse todas as roupas na noite anterior a uma sessão de fotos, não haveria tempo para terminar tudo num único dia. [image: ] Uma foto que Paul tirou de Lisa e de mim, em 2007, na nossa primeira sessão de fotos da Nasty Gal em Port Costa. Depois de tirar foto de tudo, eu me transformava numa máquina. Passava um dia inteiro editando imagens. Usuária amadora do Photoshop, eu apagava espinhas e corrigia fotos o mais rápido possível. Eu inventava sistemas para aumentar a minha eficiência sempre e em qualquer lugar. Eu fazia o upload de todas as minhas fotos por FTP e usava um template para as minhas listagens. Os meus dedos eram um turbilhão de tendinite, digitando HTML primitivos como um hacker de doze anos de idade. Quando eu escrevia as descrições de um produto, exaltava os detalhes. Incluía dicas de estilo nas peças, caso alguém estivesse pensando em fazer um lance num casaco impermeável estilo Betty White, mas não soubesse como combiná-lo – como a rapper inglesa M.I.A., por exemplo, fazia. Eu incluía todos os detalhes: medida de ombro a ombro, axila a axila, cintura, quadris, comprimento etc. Informava cada defeito e era sempre totalmente sincera quanto ao estado de todos os itens. Os títulos de leilão no eBay são mais uma ciência que uma arte. Todos os títulos dos leilões começavam com “VTG”, de vintage , depois o resto era uma salada de palavras que misturava termos de busca com descrições de fato. “Babydoll” e “Peter Pan” estavam muito em alta em 2007, com “hippie” e “boho” aparecendo vez ou outra, e esses acabaram evoluindo para “arquitetônico” e “vanguarda”. Para ser sincera, fico feliz que tenha esquecido a maioria dessas palavras e a taxonomia que eu usava para organizá-las. Naquela época eu comia, dormia, bebia e imaginava termos de busca. Eu acordava com os lençóis e cobertores numa bagunça suada e emaranhada à minha volta, praticamente gritando “Cocktail dress de lantejoula dos anos 80!” na escuridão. Eu adorava despachar coisas. Fiquei com tanto TOC com os Correios quanto havia ficado com o BLT do Subway. Eu era uma linha de montagem de uma garota só. Eu tinha uma caixa organizadora à direita, uma caixa organizadora à esquerda, e toda a minha parafernália de envio em cima da mesa. Na caixa da direita ficavam todos os itens vintage que tinham acabado de ser vendidos e precisavam ser despachados. Eu pegava um item e inspecionava para ver se estava em boas condições. Fechava zíperes, abotoava e prendia ganchos, depois dobrava e colocava dentro de um saco de plástico transparente que eu fechava com um adesivo. Eu imprimia um recibo e um bilhete feito rapidamente no Photoshop, dizendo: “Obrigada por comprar na Nasty Gal! Esperamos que você ame sua nova peça tanto quanto nós!” — ainda que “nós” fosse apenas eu. Depois eu colocava numa caixa e metia uma etiqueta de envio. Só que nada era feito com desleixo — tinha muito orgulho do cuidado com que eu afixava essas etiquetas. Tinha que supor que a minha cliente fosse tão exigente e tão preocupada com estética quanto eu. De qualquer forma, a última coisa que eu queria era que ela pensasse que se tratava de uma única garota botando a mão na massa sozinha num quarto... Aos vinte e três anos, a vida parecia surreal. Eu me lembro de uma ida típica a Los Angeles para compras, tomando cerveja no quintal de um amigo. Naquele momento, eu estava vendo os meus leilões fecharem, totalizando 2.500 dólares. Eu estava ganhando por semana um valor que jamais ganhara num mês nos meus empregos pagos por hora. Enquanto minha mãe me escrevia longos e-mails me implorando para voltar à faculdade comunitária, eu só precisava olhar para o meu saldo bancário crescente para achar que talvez, desta vez, ela estivesse enganada. Às vezes, havia tanta procura pelo que eu estava vendendo que acabava sendo chato. Eu vendi um vestido fluido, cor de marfim, de cintura baixa, coberto de contas prata e brancas, que parecia algo que as irmãs Olsen teriam usado no tapete vermelho. Durante meses após essa venda, recebi uma enxurrada de historinhas tristes de futuras noivas, me implorando para encontrar um vestido idêntico àquele para elas. Às vezes elas pareciam convencidas de que eu estava segurando as coisas, e mal sabiam que eu não era nenhuma colecionadora vintage e sim uma garota examinando araras de brechó, uma a uma, pacientemente. Eu levava a sério cada item vendido, obcecada em garantir que as minhas clientes tivessem uma ótima experiência. Eu levei uma das jaquetas Chanel para a lavanderia enquanto ela estava sendo leiloada e conseguiram perder um dos botões super raros. Essa jaqueta significava 1.000 dólares em meu bolso, então procurei dentro, em volta e debaixo de todas as máquinas de lavar. Nada. Liguei para a Chanel de Beverly Hills e a pessoa que me atendeu disse para eu enviar um botão para Nova York, onde a Chanel de lá encontraria um igual no arquivo de peças vintage da empresa. Para fazer isso, eu teria que cortar mais um botão da jaqueta. Apavorante! Mas eu cortei e enviei, e o pessoal da Chanel identificou o botão como sendo de 1988, encontrou um igual e me enviou os dois. Paguei a uma costureira profissional para pôr os botões de volta e, ainda que a menina que comprou a jaqueta tenha tido que esperar uma semana a mais pela sua compra, ela ficou empolgadíssima quando a encomenda chegou. Eu dei um suspiro de alívio e devo ter comemorado tomando um Chai na Starbucks. Você Não Pode se Sentar Conosco: O Clique do eBay Eu me afastei completamente de tudo por dois anos. Da hora em que eu acordava até a hora em que ia dormir, o eBay era o meu mundo. Para cada categoria no eBay, existe um fórum de vendedor. Eu não classificaria todas as pessoas que vendem produtos no eBay como empreendedores. (Algumas das mulheres que vendem vintage no eBay têm mascateado seus aventais dos anos 1940 por tempo demais.) Quando eu cheguei e comecei as guerras de lances em vestidos de poliéster, essas puristas não fizeram nada além de reclamar. Ficavam indignadas quando eu chamava de vintage peças dos anos 1980, argumentando que nada que tivesse sido feito após os anos 1960 poderia receber esse nome. Elas também não paravam de tirar sarro das minhas modelos: “Ela está fazendo a pose da bulimia de novo!” era o comentário favorito sobre qualquer foto em que a modelo estivesse levemente curvada com as mãos na cintura, naquela pose que virou ícone no mundo da moda. Vender vintage é como vender drogas — você nunca revela a sua fonte. É natural que os vendedores sejam ultracompetitivos. Eu, por exemplo, sou movida a competição. Mas o eBay me ensinou que algumas pessoas preferem competir de formas que eu nunca havia imaginado. Enquanto eu estava ocupada em tirar fotos, editar e abrir os meus leilões, as adversárias sorrateiras “trollavam” os itens da minha lista à procura de coisas para denunciarem. Por exemplo, era contra a política do eBay postar links para outros sites, redes sociais etc., nas postagens. No entanto, era uma prática comum entre vendedores postar o link para a sua página do MySpace — quase todo mundo fazia. Ainda assim, era um saco quando você era pego. Bastava uma vendedora ardilosa com muito tempo livre para denunciar todos os meus leilões e bum , todo o meu trabalho pesado de uma semana inteira simplesmente desaparecia. Eu tinha de refazer tudo manualmente, perdendo um dia inteiro de uma semana já lotada. Fiquei “amiga virtual” de algumas outras vendedoras, mas, no geral, o ambiente era muito traiçoeiro. Começar no eBay foi, na verdade, uma ótima maneira de me preparar para o mundo implacável dos negócios. A Nasty Gal Vintage apareceu, disparando as suas armas, saída do nada, e num instante era uma das lojas mais bem-sucedidas da sua categoria. O que me fez ter êxito não era necessariamente o que eu vendia, mas como eu vendia. A fotografia e a produção de moda nem eram tão profissionais assim — geralmente era eu formando uma equipe de uma garota só na entrada da garagem — mas ainda estavam muito à frente da concorrência. Em vez de passar o meu tempo “trollando” os fóruns, obcecada com o que as outras vendedoras estavam fazendo, eu me concentrava em tornar a minha loja o mais excepcional possível. As minhas clientes reconheciam — estavam dispostas a pagar mais na Nasty Gal Vintage do que em outras lojas. É claro que isso não teve aprovação geral por muito tempo. Muitas vendedoras ficavam aborrecidas com o fato de que as minhas coisas estavam sendo vendidas por preço altos, então os fóruns decidiram, de forma coletiva, que a única explicação para as minhas vendas elevadas era que eu estava forjando lances para alterar o resultado, ou seja, usando uma conta falsa para dar lances no meu próprio leilão para forçar o aumento dos preços. Eu continuei fazendo as minhas coisas sem me preocupar. A Nasty Gal Vintage estava crescendo a cada dia e eu estava me matando de trabalhar para continuar assim, por isso jamais iria perder horas preciosas me envolvendo em bate-bocas de Internet. Parecia uma perda de tempo inútil, mas logo se tornou irritante demais para ignorar. Opa, Sou Eu: A Saga do Vestido Melindrosa Roxo Perto do fim da minha permanência no eBay, no início de 2008, comprei um vestido de melindrosa que devia ter sido uma fantasia em algum momento. Era de poliéster roxo e eu fiz uma produção para fazer dele um lindo vestido de sair. Foi vendido por 400 dólares e a menina que o comprou, por acaso, era outra vendedora de roupas vintage do eBay, que usou o vestido na sua festa de despedida de solteira em Las Vegas. Mas os fóruns no eBay pegaram fogo. As trolls alegaram que eu e ela estávamos mancomunadas, fazendo lances para coisas umas das outras para fazer os preços subirem e que o meu vestido nem sequer era vintage . Eu nunca havia afirmado que o meu vestido era da época das melindrosas, e se a menina que comprou não estivesse satisfeita com ele, eu teria ficado contente em aceitar a devolução — mas ela adorou o vestido e sentiu que recebeu por aquilo que pagou. Quando a célebre blogueira de moda Susie Bubble escreveu sobre a Nasty Gal Vintage em 2008, a área de comentários se transformou numa hostil briga de mulheres, em grande parte relacionada com o que uma das pessoas chamou de “a saga do vestido melindrosa roxo”. Algumas pessoas estavam me defendendo, outras deixavam comentários dizendo que eu tinha “subido ao topo da montanha do eBay baseada em FALSIDADES e MENTIRAS”. Por fim, Susie ficou tão frustrada que interveio. “Não posso saber tudo e, francamente... às vezes eu simplesmente não quero saber...”, ela escreveu. Eu não entrei na discussão, fiquei na minha, dando o melhor de mim como sempre fiz. Nessa época eu já estava planejando sair do eBay porque o negócio estava crescendo muito rápido e eu estava pronta para dar o próximo passo. Com a Nasty Gal Vintage, eu finalmente encontrei algo em que eu era boa e que me mantinha empenhada. Eu estava começando a ver que ela tinha um potencial muito além do que qualquer coisa que eu jamais tivesse imaginado e, para realizar esse potencial, eu teria que montar uma empresa. No entanto, isso não tornou toda aquela falação nem um pouco mais fácil de aceitar. O eBay era o meu mundo e eu admirava muitas daquelas vendedoras. Seja como for, o eBay fez a escolha por mim. A minha conta foi suspensa bem quando eu estava prestes a lançar meu site . O motivo? Fazer o que eu fazia de melhor — conseguir marketing de graça. Eu havia deixado para as minhas clientes a URL do meu futuro site na área de feedback . Chega de Leilão Finalmente, depois de um ano e meio, eu havia crescido e não cabia mais no galpão. Transferi o negócio para um loft de 90 m² num estaleiro em Benicia, Califórnia — ainda mais longe de todos os meus amigos na cidade. Comprei a URL nastygalvintage.com porque na época nastygal.com ainda estava registrada por um site de pornografia. Eu recrutei o meu amigo do ensino médio, Cody, que era programador. Fiz o design gráfico e ele fez a programação. Escolhemos a plataforma de comércio eletrônico juntos e ele a fez funcionar. Foi o primeiro e último site que eu criei. Quando você sai do eBay, não dá para levar as informações das clientes. Eu não tinha os e-mails delas, mas podia lançar mão dos meus sessenta mil amigos no MySpace. Quando o site da Nasty Gal Vintage foi lançado no dia 13 de junho de 2008, todos os produtos se esgotaram no primeiro dia. A estilista de Kelly Ripa ligou e perguntou se eu tinha mais uma daquelas jaquetas vintage , mas no tamanho PP. Hum... não, eu não tinha. Logo em seguida, contratei minha primeira funcionária, Christina Ferrucci. No primeiro ano, paguei a ela mais do que eu estava pagando a mim mesma. Ela fez uma contraproposta pedindo 16 dólares por hora em vez dos 14 oferecidos — um valor que eu jamais havia recebido — e, no fundo, eu estava preocupada se teria tanto trabalho para ela. Mas valia a pena pagar essa quantia a ela, até mais, e, além disso, ela teve bastante trabalho. Na sua segunda semana no emprego, ela passou tão mal no caminho de casa para o trabalho que vomitou no carro enquanto dirigia, mas, mesmo assim, foi trabalhar. Ela entrou, embalou um monte de pedidos, foi ao correio, despachou, depois voltou para casa e foi repousar na cama. Christina está comigo até hoje e agora é a diretora de compras da Nasty Gal. Se os negócios são uma guerra, sempre acho que esse é o tipo de GIRLBOSS que eu quero ao meu lado nas trincheiras. Depois de mais de dois anos vendendo exclusivamente vintage , eu queria dar mais à nossa cliente das coisas que ela queria. Já estávamos boas em selecionar peças vintage editoriais e ultramemoráveis para ela, então por que não selecionar coisas novas também? Eu estava ficando cansada do peso do vintage — produtos esgotando toda semana, sem nenhuma perspectiva de férias à vista. Seis meses depois de lançar o site , Christina e eu fomos ao nosso primeiro trade show em Las Vegas. Ninguém tinha ouvido falar de nós e nós nunca tínhamos feito isso antes. Eu fui à cabine de Jeffrey Campbell, sabendo que era uma marca com a qual queríamos trabalhar. Recebi um não de imediato. Uma coisa que você deve saber sobre mim é que quando ouço não, eu raramente escuto. É preciso ter um tipo especial de teimosia para ser bem-sucedida como empreendedora. E, seja como for, você não recebe o que não pede. Eu voltei determinada, abri o meu smartphone e mostrei a Jeffrey o que ele estava perdendo na nastygalvintage.com. Pouco depois, éramos a mais nova loja online de Jeffrey Campbell e até hoje somos uma de suas maiores clientes. Também fui falar com Sam Edelman e, quando ficaram relutantes, mostrei o site e prometi que tornaríamos a marca deles cool . Tornamos e, logo em seguida, vendemos 75.000 dólares de suas botas Zoe. Começamos devagar. Compramos algumas coisas de uma marca chamada Rojas. Eu lembro muito bem. A nossa primeira entrega foi um vestido trapézio xadrez, vermelho e preto, com gola de camisa e frente abotoada. Eu fotografei o vestido em Nida, a minha modelo que é uma garota dos sonhos tailandesa e que havia sido a estrela da loja no eBay. Refugiada de Nova Orleans, ela era apenas uma menina de dezesseis anos quando começou a trabalhar para mim (eu a encontrei no MySpace, como era de se esperar), e acabou se formando no ensino médio sem parar de receber pagamentos em hambúrgueres e notas de 20 dólares. O vestido esgotou e fizemos mais um pedido. Começamos comprando lotes de seis, experimentando para ver o que vendia e o que não vendia. Se vendesse, aprendíamos. Se não vendesse, aprendíamos. E continuamos aprendendo. As seis unidades se transformaram em doze, doze viraram vinte e quatro e o nosso negócio, antes exclusivamente vintage , tornou-se um destino online onde as garotas mais descoladas poderiam encontrar não apenas vintage , mas pequenos estilistas a bons preços, com peças confeccionadas de forma inédita. A Nasty Gal era o segredo mais bem guardado das nossas clientes, mas a novidade se espalhou — e seguimos crescendo. Às vezes, Christina e eu ficávamos confusas e perguntávamos uma à outra onde estava determinado item no site , já que o mesmo havia desaparecido repentinamente da loja virtual. Nessas ocasiões, passávamos alguns minutos tentando entender a falha no sistema e acabávamos descobrindo que, na verdade, o item esgotara quase imediatamente. Embora esses termos sejam todos muito familiares para mim agora, na época eu não sabia o que significava “pesquisa de mercado” e “venda direta ao consumidor”, nem que as minhas clientes constituíam uma “demografia”. Eu só sabia que falar com as garotas que compravam de mim era importante e sempre tinha sido. Quando o MySpace começou o seu declínio rumo a se tornar um projeto pessoal de Justin Timberlake, eu, junto com as minhas clientes, migramos para outras redes sociais e mantivemos o bate-papo 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eu me fortalecia com isso. As minhas clientes me diziam o que elas queriam e eu sempre soube que, seu eu as escutasse, nós todas nos sairíamos bem. Mas nos saímos melhor do que bem. Juntas, éramos incrivelmente fantásticas. Um ano depois da mudança para o estaleiro, a Nasty Gal já estava grande demais para o espaço. A empresa mudou-se para a rua Gilman, em Berkeley — a uma quadra da lendária boate punk —, para uma butique com vitrine ao lado de uma loja de pianos. Os nossos 90 m² se transformaram em 160 m² e tínhamos o nosso próprio estacionamento. Maravilha! Ali, contratamos a nossa primeira equipe: alguém para despachar os pedidos e alguém para escrever a descrição dos produtos. Liguei para o meu velho amigo Paul, na esperança de que ele se juntasse a nós num esquema de meio período e fosse o nosso primeiro fotógrafo na nossa loja/depósito. Paul, sempre a fim de aventura, aceitou. Depois de Paul veio Stacey, minha amiga havia vários anos, que até então estava fazendo bicos na butique da Christian Dior em São Francisco. Ela tinha um gosto impecável e um visual icônico: uma beleza magra com uma juba de cabelos escuros derramando sobre maçãs do rosto salientes. Treinei Stacey com as dicas de produção e os truques da Nasty Gal, e, de bônus, ela ainda havia sido maquiadora na Chanel. Ela, junto com o nosso estagiário, Nick, escovavam, passavam blush e gloss , abotoavam, fechavam zíperes, e espalhavam pó facial. Eu me concentrava nas compras, nas redes sociais e na direção do negócio; Cristina administrava a nossa pequena equipe. Enquanto muitas pessoas ficariam felizes com um negócio pequeno de administração simples, não havia nada de simples nisso. Com a empresa crescendo a cada minuto, tínhamos uma necessidade constante de mais tudo — mais gente, inventários e espaço, para começar. Em breves oito meses, estávamos maiores que a nossa loja em Berkeley. Precisávamos de um depósito adequado, e encontrei um na cidade vizinha de Emeryville, a famosa sede da Pixar. Eu nunca pensei que algum dia estaria ocupando um espaço de 700 m². Eu nunca havia trabalhado num depósito e nunca havia negociado uma locação tão cara. Eu estava animada e aterrorizada, e sabia que precisava de mais ajuda do que estava tendo. O “doce problema” — de esgotar todas as peças vintage mais rápido do que conseguíamos acompanhar — tinha começado a acontecer com as coisas dos estilistas também, que a essa altura superava o vintage em volume de venda. Estávamos crescendo 700% em relação ao ano anterior, que é algo quase inédito no setor de varejo. Os e-mails de clientes chegavam mais rápido do que a nossa capacidade de responder. Os pedidos eram empacotados com um prazer fervoroso e o meu fiel Volvo 87 e eu nos arrastávamos para Los Angeles toda semana para comprar, comprar, comprar feito loucos. [image: ] Nosso primeiro logo e o meu primeiro cartão de visitas. Eu havia começado a trabalhar com um consultor, Dana Fried, que (adivinha!) encontrei na Internet. Ele havia sido COO e CFO[4] da loja de sapatos Taryn Rose e tinha muita experiência em administração de empresas. Dana e eu concluímos que eu precisava de um executivo para administrar a essência do negócio: operacional, finanças e recursos humanos. Redigimos uma descrição de emprego para diretor de operações, mas o que acabei conseguindo foi alguém que era muito mais que isso. Contratamos alguém que ajudaria a dar forma ao futuro da Nasty Gal. Pessoas com a experiência de Frank não costumam solicitar emprego. Fiquei chocada ao receber o currículo de alguém que tinha vinte anos de experiência em operações na Lands’ End e que havia sido COO da área online e de catálogos da Nordstrom. Mas Frank sabia que a Nasty Gal estava cheia de fúria e também compreendia que esse tipo de diversão é difícil de encontrar. Frank tinha muitas soluções. Ele me falou de uma coisa chamada organograma, uma ferramenta que as empresas usam para mapear a estrutura e a hierarquia das equipes. Depois ele me falou dos “departamentos”. Era como se estivéssemos inventando a roda! Primeiro veio um diretor de recursos humanos, depois alguém para a controladoria. Em seguida, um gerente de atendimento ao cliente, um controlador de estoque e um gerente operacional. Contratamos um cara de TI. Contratamos compradores assistentes e eu passei a ter uma assistente. Separamos envio e recebimento e criamos um departamento de devoluções. Cody entrou para a equipe em tempo integral e se tornou o nosso gerente de comércio eletrônico. Ligamos os telefones pela primeira vez e ficamos com linhas múltiplas e fones com microfones — tão oficial! Nossas clientes não precisavam mais mandar e-mail para entrar em contato conosco — podiam simplesmente ligar. Sejam bem-vindas, clientes! Enquanto planejávamos e criávamos estratégias, eu era uma esponja, absorvendo tudo. À medida que o negócio crescia, eu crescia, e a ambiguidade que antes me aterrorizava transformou-se em algo que me fortalecia. Eu ainda tinha TDA, mas descobri que dirigir a minha própria empresa significava que todo santo dia, se não toda hora, havia algum novo desafio para enfrentar, um novo problema a resolver e não havia tempo para se demorar em nada, muito menos ficar entediada. Conseguimos vender, pela primeira vez, 100 mil dólares em um dia, e eu decidi celebrar: aluguei um pula-pula em forma de cavalo e mandei montar no depósito. Enviar e-mails , pula, pula, pula. Despachar pedidos, pula, pula, pula... Foi basicamente o melhor dia de todos. Para a surpresa de todo mundo, menos a minha, o depósito de Emeryville ficou pequeno em apenas um ano. A essa altura, eu já estava me acostumando com o crescimento. Isso não tornava as coisas nem um pouco mais fáceis, mas pelo menos eu podia me preparar, ainda que brevemente. Parei de escutar o pessoal experiente — até Dana — porque nem eles conheciam a magnitude de crescimento que estávamos tendo. No outono de 2010, comecei novamente a busca por mais espaço. Eu estava ficando cansada das minhas viagens mensais, às vezes semanais, a Los Angeles, onde eu dormia tantas vezes no sofá da minha amiga Kate que comecei a ficar preocupada em estar abusando da boa vontade dela. Quase todos os showrooms e estilistas com quem trabalhávamos ficavam lá. Também voava para LA para escolher modelos fotográficas que depois trazíamos de avião para tirar fotos conosco. Eu sabia que queria criar e fabricar os nossos próprios produtos e que a Bay Area era uma imensidão de talentos criativos que simplesmente não se encaixavam conosco. Com marcas tão conservadoras como a Gap, Macy’s e Banana Republic como vizinhas, contratar pessoas era quase impossível. Por isso, tomei a decisão de mudar a empresa para Los Angeles. Dois meses depois, implantei a mudança. Perguntei a treze membros da equipe se poderiam mudar de cidade e todos, com a exceção de um, respondeu que sim. Três anos e meio depois, ainda estão quase todos aqui em Los Angeles, crescendo junto comigo, em uma equipe, agora, com cerca de trezentos e cinquenta funcionários. PERFIL DE UMA #GIRLBOSS: Christina Ferrucci, Diretora de Compras da Nasty Gal Eu consegui me formar na faculdade trabalhando numa loja em São Francisco e foi lá que percebi que eu levava jeito pra selecionar roupas. Depois de formada, pensei, entre outras coisas, em ter um blogue sobre moda e encontrei um post na Craigslist oferecendo uma vaga de assistente numa loja chamada Nasty Gal. Eu nunca tinha ouvido falar da marca e, na época, meu guarda-roupa era composto por saldos da Goodwill da Haight Street, mas gostei do fato de que a loja era de roupas vintage e se expressava de uma forma que não era familiar, porém autêntica. Eu estava completamente sem grana e não tinha muita certeza do que queria fazer, e ser assistente parecia ser algo temporário, que eu poderia interromper a qualquer momento. Cinco anos depois, ainda estou aqui. Eu não comecei uma carreira de acordo com um plano, escolhi seguir aquilo em que eu era boa e que me interessava. No início, a Nasty Gal era um “espetáculo” de uma mulher só, funcionando numa pequena quitinete. Foi impressionante ver Sophia dar o salto de estar atrás das câmeras produzindo as fotos de uma calça, e passar a criar o design gráfico de e-mails — a energia dela era contagiante. Sophia era muito ligada às clientes e se mantinha num alto patamar para mantê-las envolvidas e satisfeitas. Ela punha muita pressão em si mesma e eu também fazia o mesmo comigo. Após algumas semanas na Nasty Gal, eu fazia parte do que rapidamente se tornou um “espetáculo” de duas mulheres. Sophia e eu fomos aprendendo sobre o negócio à medida que seguíamos em frente, e a maior parte do aprendizado se deu por tentativa e erro. Se um estilo dava muito certo, tomávamos nota e tentávamos reproduzir o sucesso. Se um estilo era ruim, estava acabado para nós. Diretrizes muito simples, mas manter a simplicidade das coisas sempre esteve no DNA da Nasty Gal. Andar pela nossa primeira feira de negócios e dizer o nome Nasty Gal foi uma experiência inesquecível e uma lição de vida sobre o poder da persistência. Sempre dizíamos o nome pelo menos duas vezes porque todo mundo pedia para repetirmos. Em seguida, depois de um sorriso vago ou uma piada leve, Sophia pegava o smartphone e mostrava a eles que se tratava de um site de verdade e que era lindo. Cometemos muitos erros naquela feira em relação ao que pensávamos que as clientes queriam e o que combinava com a marca. Em última análise, aprendemos mais do que teríamos aprendido se não tivéssemos corrido aqueles riscos e até hoje eu transmito aquelas experiências à nossa equipe de compras. Eu aprendi a tomar rapidamente decisões que moldam o futuro de forma positiva. Um talento com o qual eu sempre contribuo é a minha habilidade de “insultar” as roupas. Por exemplo, “as cores dessa calça parecem de jaleco de hospital” ou “o modelo desse vestido parece com uma roupa de bebê”. Essa habilidade me ajudou bastante e provavelmente livrou a cliente de escolhas questionáveis. Olhar para o produto ainda é a minha parte favorita. Eu quero fazer parte da criação da melhor experiência de compra da nossa cliente e sinto que a Nasty Gal tem a capacidade de fazer isso melhor do que qualquer pessoa já fez antes. Fazer parte do sucesso da Nasty Gal tem sido surpreendente, empolgante e completamente insano algumas vezes. Como primeira funcionária, eu desempenhei muitos papéis diferentes (em geral ao mesmo tempo). Desde cuidar do suporte ao cliente, passando pelo RH para novos contratados, ser compradora, tomar conta do pós-venda ou até gerente de um departamento de remessa cheio de homens — o que você imaginar, eu já fiz. Agora, como diretora de compras, posso dizer que esta carreira tem sido estranha, mas gratificante. Quando respondi àquele anúncio na Craigslist, eu me deparei com algo que acontece uma vez na vida. Não foi puro acaso. [image: ] [image: ] Todas as ações são criativas 3- Empregos Sofríveis Salvaram Minha Vida 3 Empregos Sofríveis Salvaram Minha Vida É através dos enganos que se acha o caminho correto. — Austin Osman Spare [image: ] A única coisa boa de ser modelo quando criança foi poder faltar à escola. A cho que devo ter batido algum recorde de “Empregos Mais Horríveis Antes de Se Completar Dezoito Anos”. Ou, se não isso, eu ganharia o “Prêmio de Empregos Mais Horríveis que Duraram Duas Semanas ou Menos”. Quando criança, eu experimentava trabalhos: barraca de limonada, entrega de jornais, babá e um breve período como modelo infantil que terminou quando eu não consegui me entusiasmar para ficar pulando e gritando “Pizza, pizza!” numa seleção para o Little Caesars. Os meus anos de ensino médio foram como flertes rápidos, só que para empregos. Talvez nenhum desses empregos horríveis tenha realmente salvado a minha vida, mas eu acredito que a minha variedade de fracassos curtos ou, como prefiro chamá-la, a minha promiscuidade em empregos, tornou-me uma jovem adulta experiente. Quando a sua capacidade de manter a atenção é do tamanho de um cílio, é fácil perceber do que você gosta e do que não gosta. Eu geralmente tenho que jogar uma tonelada de cocô na parede até saber o que fica grudado (não estou falando de forma literal, por favor). Para o azar de todos os empregadores que deixei para trás, valeu muito à pena. [image: ] Evidência do pior momento da infância, também conhecido como escola católica. Antes de começar a romaria pelos meus empregos sofríveis, eu frequentei dez escolas em doze anos de educação formal. Porque nos mudamos, porque a nossa situação financeira mudou, porque eu odiava a escola. Quando eu estava no terceiro ano, os meus pais não sabiam mais o que fazer comigo — eu arranjei confusão por estar fazendo algo “fora da tarefa”, isto é, lendo um dicionário no fundo da sala de aula. Algum milagre me qualificou para entrar num programa de alunos que aprendem rápido, no terceiro ano, o que acabou sendo uma piada — líamos jornais no chão o dia inteiro e a minha professora “não acreditava em matemática”. Ficou óbvio que essa não era a solução, então fui matriculada numa escola católica. E, adivinha? Isso também não deu certo! Não importava para onde eu ia, eu não me ajustava (e geralmente conduzia as coisas com um humor escatológico, o que não me ajudou a fazer amigos). Eu me dava tão bem com as crianças descoladas quanto com os nerds . Esse espírito de turismo forçado junto com os meus mecanismos de sobrevivência rapidamente adquiridos acabaram também facilitando a mudança de um emprego a outro. Por sorte, a economia estava em boas condições quando comecei a trabalhar aos quinze anos, o que me permitia conseguir um emprego, pedir demissão e ser contratada de novo com muita facilidade. Eu nunca ficava decepcionada quando um emprego não dava certo, uma vez que eu já vivera uma vida inteira me sentindo tão descolada que já desistira de esperar que qualquer coisa, lugar, pessoa ou trabalho pudesse ser a minha vocação. Desventuras na Promiscuidade com Empregos Eu posso não ter ido aonde eu pretendia ir, mas acho que acabei onde precisava estar. — Douglas Adams Essa dificuldade em “me relacionar” durou toda a minha juventude. No ensino médio, toda vez que eu ouvia o sinal tocar, dizia a mim mesma que a minha vida havia acabado antes mesmo de começar. Quando você está almoçando com o seu professor de história superliberal em vez de estar com amigos, você sabe que está na hora de ir embora. Consegui convencer os meus pais de me deixarem estudar em casa durante a última parte do segundo ano. Eu tinha uma professora que ia à minha casa uma vez por mês para passar tarefas, mas a maior parte do tempo eu passava trabalhando. Havia um Subway perto de casa, então fui até lá, preenchi uma solicitação de emprego e me tornei uma Artista do Sanduíche. Eu usava a camisa polo verde e a viseira com orgulho, trabalhando no turno da manhã e na correria do almoço, apesar de ainda não saber o que era a correria do almoço. Parte do meu trabalho era usar luvas e massagear a maionese para dentro do atum. Sexy ! Eu tacava o atum numa tigela e derramava dois litros de maionese, vestia as luvas e ia massageando com as mãos. Outra tarefa favorita era desfiar kani-kama, que chegava numa esburacada tábua gigante. Eu nem me lembro por que pedi demissão, mas o emprego seguinte foi numa livraria Borders. Eu gostava muito desse trabalho. Na época, Quem Mexeu no Meu Queijo? era o livro que todo mundo ia procurar. Eu não sabia sobre o que era e ainda não sei. Infelizmente, meu trabalho na Borders não envolvia maionese nem luvas de borracha, mas trabalhar no setor de informações foi um grande passo, uma vez que eu podia usar o cérebro. A Borders dava um programa de treinamento bastante abrangente para os funcionários, o qual, apesar das minhas inclinações anticorporativas nesse ponto da minha vida, eu considerei muito valioso e ainda considero. Por exemplo, eles me ensinaram a dizer “sim” em vez de “claro”, e “vou verificar” em vez de “não sei” quando estivesse ajudando os clientes. Uma dica muito importante para atendimento ao cliente: simplesmente peça desculpa às pessoas. Mesmo que a culpa não seja sua, elas estão decepcionadas com a empresa para a qual você trabalha e é o seu trabalho ser simpática com elas. Ainda que você possa estar recebendo um salário mínimo, para o cliente você é o rosto da empresa como um todo. Esse é o tipo de responsabilidade que faz com que as pessoas recebam aumentos, promoções e que construam carreiras. Na adolescência e com vinte e poucos anos, eu achava que nunca fosse aceitar o capitalismo, muito menos que seria uma defensora pública dele. Eu tinha certeza de que viveria tentando fazer carreira como fotógrafa, que me sustentaria com determinados empregos por pura necessidade, não porque quisesse. Não sou mais tão cínica assim. Descobri que o normal é que as grandes empresas forneçam o modelo padrão para que os funcionários planejem um caminho para si mesmos e continuem se desenvolvendo em suas respectivas áreas, assim como em suas habilidades administrativas. Hoje, na Nasty Gal, temos uma coisinha chamada “Nossa Filosofia” que permeia o escritório. Contratamos uma equipe de Recursos Humanos incrível que garante que as nossas práticas sejam justas e que estejamos cuidando bem dos nossos funcionários. Antes da Nasty Gal, eu mal sabia o que significava a sigla RH (Fator Rh?), e uma filosofia de empresa era algo que me faria revirar os olhos. Mas quando uma empresa está numa trajetória tão louca como a da Nasty Gal, e se torna tão grande quanto a Nasty Gal, essas coisas são mais do que apenas jargão corporativo — são fundamentais para uma cultura de empresa positiva. Minha passagem pela Borders, embora eu gostasse de lá, durou apenas seis meses; depois disso, pratiquei mais promiscuidade de empregos em um shopping outlet , em duas sapatarias diferentes (ambas especializadas em sapatos ortopédicos) e em outra livraria. Depois trabalhei numa lavanderia, onde ficava sozinha, nos fundos, esfregando manchas na gola de camisas masculinas e separando-as por nível de engomagem. [image: ] O fato de ter pedido demissão da Borders não diminui de forma alguma o quanto aprendi por lá. Trabalhei num restaurante por mais ou menos um dia, e esse eu realmente odiei. Eu não era exatamente uma pessoa que gostava de gente e trabalhar em restaurante é isso: gente, gente o tempo todo. Eu pensei: se eu for ganhar o mesmo salário, independentemente do que faça, o que eu deveria escolher? Ser uma atendente desajeitada (só digo isso porque eu era muito estabanada), ficar estressada com leite derramado ou passar o dia sentada numa loja Dexter pouco iluminada? Eu preferia trabalhar na Dexter e ler um livro. Ainda que eu sempre tenha trabalhado duro quando era empregada, todos esses empregos demandavam somente 15% do meu cérebro (no máximo) e todos os empregos que eu adorava acabavam se tornando tediosos. Parecia um pouco com o filme Feitiço do Tempo — todo dia era o mesmo, não importava o quanto eu havia feito no dia anterior. E sem Bill Murray? Não, obrigada. A essa altura da minha romaria de empregos sofríveis, eu ainda não havia colhido o que plantara e essa, acabei aprendendo, é a única maneira de me manter envolvida. Combata o Tédio Ser imune ao tédio... É a chave da vida moderna. Se você não se deixar vencer pelo tédio, não existe nada, literalmente, que você não possa conquistar. — David Foster Wallace Essa foi a fase da minha vida em que eu escolhia empregos por serem muito fáceis. No último emprego que tive antes da Nasty Gal, eu era recepcionista da Academia de Artes da Universidade de São Francisco. Eu praticamente não fazia nada e essa foi a única razão pela qual me candidatei ao emprego. Não me importava, apenas queria garantir o meu sustento. Eu desejava ser uma versão barata de um segurança, ficar de bobeira no MySpace e de vez em quando gritar: “Ei, você precisa digitar seu código de entrada!” Assim que o meu turno começava, eu estava esperando que terminasse. Hoje eu percebo como isso soa patético, e quer saber? Era patético. Fico triste de lembrar o quanto eu era apática. Espero que eu tenha cometido alguns desses erros para que você, querida #GIRLBOSS trabalhadora em formação, não precise cometê-los. O que sei hoje é que nada é universalmente tedioso — o que é chato para você poderá ser totalmente estimulante para outra pessoa. Se você está entediada e odiando algo, esse é um grande sinal de que você muito provavelmente apenas está no lugar errado. Existem pessoas que simplesmente odeiam trabalhar e ponto, não importa que tipo de trabalho. Este livro não é para essas pessoas. A menos que você tenha nascido filha de um milionário, trabalhar é algo que todos temos que fazer. Então que seja algo que você goste, porque o tédio não é o estado natural de uma #GIRLBOSS. De jeito nenhum. A menos que você seja movida por um volume de rancor sobrenatural, é impossível ser bem-sucedida fazendo algo que você claramente odeie. Eu, pessoalmente, sou horrível em relações públicas. Existe toda uma arte no trabalho do RP que tem a ver com ser de um jeito para cada caso e dizer a coisa certa na hora certa, algo que eu nunca dominei. Um bom relações públicas precisa ser capaz de vender sem deixar de ser autêntico e de formar relacionamentos. Kaitlyn, a diretora de RP da Nasty Gal, ama o seu trabalho e é ótima nele. Ela é extrovertida e adora gente, então trabalha ainda melhor em contato constante com todo mundo o tempo todo. Eu me refiro, brincando, ao lado financeiro do negócio como “a parte chata”, mas só porque é chato para mim. O nosso CFO adora examinar gráficos, planilhas e todo tipo de acrônimo que eu só estou começando a entender. Isso é fantástico porque se não houvesse gente que achasse finanças e logística internacional fascinantes, nenhum de nós na Nasty Gal teria um emprego. Minha maior fraqueza como empregada (e também como amiga) era a minha incurável incapacidade de ser pontual. Talvez o tempo seja a única coisa no mundo que eu não consiga negociar, não importa o quanto eu me esforce. Isso me persegue até hoje. Sempre me chateou o fato de ter que tirar vinte minutos da minha vida pessoal para chegar ao trabalho, considerando que esses vinte minutos não eram pagos. Para ficar com os últimos minutinhos da “minha” vida para mim (uma vez que eu sentia que eu era deles durante o expediente), eu saía para trabalhar o mais tarde possível, garantindo assim que eu chegasse quase sempre atrasada. Às vezes se atrasar é inevitável (também conhecido como “deu merda”), mas chegar atrasado de forma repetida e previsível é uma forma maravilhosa de dizer ao seu chefe que você simplesmente não se importa com o seu trabalho. Ninguém quer contratar ou manter empregado alguém que claramente não está se importando. [image: ] Usando o meu amor por fotografia para explorar a natureza opressiva do tempo. Finalmente encontrei um emprego numa loja de plantas hidropônicas. Nós dançávamos ao som de A Tribe Called Quest enquanto eu equilibrava os níveis de pH da água. Eu cuidava de uma bananeira gigante que ficava com as raízes presas em lava rochosa, lembrando cocô de coelho ampliado. Eu adorava esse emprego. Depois disso, fiz paisagismo, achando que seria um bom exercício estar ao ar livre, carregando mangueiras e um carrinho de mão por um complexo de escritórios. Isso durou cerca de duas semanas. Vai, pode rir e se perguntar o que eu tinha na cabeça, porque... sério, o que eu tinha na cabeça? Mas, não importava qual fosse o trabalho, o resultado geralmente era o mesmo — eu me entediava e pedia demissão. No entanto, quando comecei a Nasty Gal, vi que eu gostava de trabalhar e que os desafios me estimulavam. Os dias passavam numa felicidade sem início nem fim porque eu estava tão ocupada que nem olhava no relógio. Isso era muito diferente de não ter nada a fazer senão contar os minutos enquanto alguém que não era mais inteligente que eu estabelecia as oito horas do meu dia. Sempre tive problemas com regras, o que fez da Nasty Gal a única coisa que sou capaz de fazer. O que todos esses empregos me ensinaram é que você tem que estar disposta a tolerar alguma merda que não gosta — pelo menos por algum tempo. Isso é o que a geração dos meus pais chamaria de “formação de caráter” e que eu prefiro chamar de “treinamento de #GIRLBOSS”. Eu não esperava amar nenhum desses empregos, mas aprendi muito porque trabalhava de verdade e passava a amar coisas que faziam parte deles. Admito que alguns se encontravam muito abaixo do nível de inteligência de qualquer pessoa, porém, mesmo assim, eu começava a trabalhar com uma atitude de aventura e experimentação. Em vez de ficar presa a como tudo funcionava, eu preferia ver aonde as coisas iam dar. Quando você se aproxima de tudo como se fosse um grande experimento divertido, não é nada de mais quando as coisas não dão certo. Se o plano muda, pode ser ainda melhor. Existem oportunidades secretas escondidas dentro de cada fracasso, nas quais eu vou me deter em outro capítulo, mas comece a procurar agora — elas estão em toda parte! E os empregos sofríveis deram sentido aos bons. A maioria das pessoas não consegue o emprego dos sonhos logo de cara, o que significa que todos temos que começar em algum lugar. Você vai dar muito mais valor a uma carreira incrível quando se lembrar dos empregos não tão incríveis do passado e, melhor ainda, vai perceber que aprendeu alguma coisa com todos eles. O que eu fiz antes de começar a Nasty Gal me deu uma perspectiva e uma diversidade de experiências, o que para mim foi tão importante quanto tudo que fiz depois desse começo. Levei um tempo para perceber isso, porém, porque eu queria uma experiência só com altos, sem baixos. Eu procurava algo que me pagasse para não fazer nada e ainda crescer na vida, e isso, minhas amigas, simplesmente não existe (a menos que você seja a Paris Hilton, que eu não tenho certeza se está crescendo de alguma forma, especialmente quando se trata de moda). Ouvi recentemente alguém usar o acrônimo “EQO QEQ QEO EQ”, que se refere à frase “Eu Quero O Que Eu Quiser Quando E Onde Eu Quiser”. Pode-se dizer que esse é o lema da minha geração. Somos os filhos da Internet que fomos mimados pelo fato de termos o que desejamos a partir de um clique. Pensamos rápido, digitamos rápido, nos movimentamos rápido e esperamos que tudo aconteça com a mesma rapidez. Eu sofro desse mal também. Não tive paciência para terminar o ensino médio nem para fazer faculdade nem para esperar por uma carreira que levaria muito tempo para se desenvolver. Como empregadora, eu costumo ver isso em recém-contratados que acabaram de sair da faculdade e que esperam conseguir um emprego maravilhoso imediatamente, que satisfaça toda a sua criatividade superpura e pague bem. Olha, esse é um ótimo objetivo, mas, como em tudo, você tem que trabalhar para conseguir o que quer. Eu vejo tantos currículos de pessoas que estagiaram em 20 milhões de lugares incríveis. Isso é ótimo, fico contente que você tenha conseguido explorar os seus interesses, adquirindo experiência, mas se você está estagiando há cinco anos, para mim, parece que você não precisa trabalhar. Eu respeito pessoas que estão dispostas a simplesmente arregaçar as mangas e fazer o trabalho, mesmo que seja um trabalho de merda. Acredite, não existe nenhuma vergonha nisso e eu posso fazer um sanduíche de atum maravilhoso para provar. Escola: Não é a Minha Onda Quem eu fui no colegial estava de acordo com as normas de conduta de uma pessoa normal, tipo obedeça sua mãe e seu pai. Depois eu saí da escola e saí de casa, e simplesmente comecei, na falta de um termo melhor, a “correr livremente”. — Iggy Pop A esta altura, você provavelmente já percebeu que a escola e eu não íamos com a cara uma da outra. Para ser franca, eu tenho sentimentos conflitantes em relação a isso. Houve muitos momentos em que eu queria ter tido a visão, a paciência e a disciplina para me manter ligada em uma faculdade durante quatro anos. Respeito muito as pessoas que conseguem isso. Mas a escola não era a minha onda e toda a filosofia por trás deste livro é a de que o sucesso verdadeiro está em saber quais são as suas fraquezas e agir de acordo com os seus pontos fortes. Resumindo, quando você é uma droga em alguma coisa e não quer ela de jeito algum, se livre das amarras e siga em frente. Eu era um horror quando precisava ser paciente e ver qualquer coisa em longo prazo, problema que eu, agora, superei. Mas se você for determinada, paciente e quiser estudar, eu serei a última a lhe dizer para fazer de outro jeito. [image: ] Meu boletim já dizia tudo: precisa melhorar a atitude; gosta de perturbar os outros, gosta de perder tempo; precisa melhorar as notas; precisa entregar as tarefas no prazo. Havia momentos em que eu odiava a escola não por causa das outras crianças, mas por causa dos adultos sem noção que eu precisava aguentar. Lembra da professora do programa de aprendizado rápido que não acreditava em matemática? Então, ela morava na frente do zoológico, levava para a escola pelotas regurgitadas por corujas e largava na nossa carteira para dissecarmos. Aquilo cheirava a vômito porque era vômito mesmo. Eu odiava essa professora. No quarto ano, a minha professora do colégio católico me mandava para casa com um bilhete que detalhava as minhas transgressões diárias. A Srta. Curtis achava que eu era maluca. Os meus pecados incluíam me levantar com muita frequência para beber água no bebedor, levantar muitas vezes para apontar o lápis e demorar demais quando ia ao banheiro. Minha mãe, já completamente exasperada a essa altura, disse: “Nós sabemos que você não é doida... não é?” “Não, mãe, eu não sou doida!”, eu disse, e fizemos um acordo. Se eu fosse para casa com um bilhete positivo por cinco dias seguidos, ela me levaria à loja da Sanrio. Logo, logo, eu estava escolhendo uma coisa da Hello Kitty, outra do Kero Kero Keroppi, com a mochila abarrotada de bilhetes positivos da minha professora. No sétimo ano, perguntei ao professor de ciências se eu podia ficar em cima de uma cadeira enquanto fazia a minha apresentação porque eu estava orgulhosa do que havia preparado e queria garantir que todos pudessem ver. Ele não deixou. Olha, é mais fácil pedir desculpa do que pedir permissão. Eu levei a palavra dele ao pé da letra e subi numa mesa do laboratório. Com o passar dos anos, fui me sentindo mais isolada. Eu comecei o ensino médio num bairro residencial, que tinha um ambiente sem vida, e sem vômito de coruja. Exceto pelos shoppings , havia pouco a se fazer além de fumar maconha à beira do rio e entrar escondido nas jacuzzis de condomínios de apartamentos. O ensino médio era cheio de vadias e atletas, e a popularidade tinha a ver com conseguir manter os tênis limpos. Nessa época, eu usava calças jeans boca de sino, sandálias tipo birkenstock de plataforma e sempre um cinto, geralmente um que era coberto de tachas. Eu usava também um lenço de cabeça, e o piercing no meu septo ficava escondido dentro do meu nariz. Era óbvio que eu estava destinada a uma carreira na moda. O próprio mecanismo do método de ensino tradicional era opressor. Eu percebia que era assim que o Sistema treinava a juventude americana para ter a resistência necessária para uma vida inteira repetindo os comportamentos ensinados na escola, só que no ambiente do escritório. Eu me sentia como uma prisioneira. Eu acordava no mesmo horário todo dia e me sentava nas mesmas cadeiras cinco dias por semana. Eu tinha tanta autonomia quanto um cão de Pavlov. Problemas de primeiro mundo, certo? [image: ] O Sr. Sharon, meu professor favorito e companheiro de almoço. Ele escrevia poesia, cara . O meu professor favorito era o Sr. Sharon, aquele com quem eu almoçava quase diariamente. Ele acreditava em mim. Ele era vegetariano. Ensinava história dos Estados Unidos usando o livro Lies My Teacher Told Me [Mentiras que o Meu Professor me Contou] e levava trechos de escritos da anarquista Emma Goldman. Fiquei sabendo que Helen Keller era socialista! Fiquei orgulhosa do meu projeto de vídeo, que era uma série de fotos com a angustiante música “Infected”, do Bad Religion, como trilha sonora. Bum , a imagem de um outlet da Nike. Pow, a imagem de notas de dinheiro. Bang, a imagem de um cemitério. Mas fora essa uma hora com o Sr. Sharon, que era um grito de liberdade atravessando as grades da prisão, o ensino médio era uma total perda de tempo. Foi mais ou menos nessa época que um psiquiatra me diagnosticou com depressão e déficit de atenção. Embora não houvesse dúvida de que eu estava deprimida, eu me recusei a tomar os remédios que ele receitou e os joguei fora. Eu sabia que a minha tristeza profunda e o meu desinteresse universal não se deviam a um desequilíbrio químico. Não se tratava de algo que sairia de mim por meio de medicação — eu simplesmente odiava o lugar em que eu estava. É uma pena que a escola seja com tanta frequência considerada uma espécie de acordo em que um modelo serve para todos. E se não servir para você, lhe tratam como se houvesse algo de errado com a sua pessoa. Então é você, não o sistema, que está falhando. Mas, veja bem, eu não estou tentando dar passe livre para todo preguiçoso faltar a aula e ir direto para o shopping , contudo acho mesmo que deveríamos reconhecer que a escola não é para todo mundo. Então, #GIRLBOSS, se você é péssima na escola, não deixe que isso acabe com sua autoestima. Isso não significa que você é burra ou inútil, ou que nunca vai ter êxito em nada. Só significa que os seus talentos estão em outras coisas, então aproveite a oportunidade para descobrir em que você é boa e encontre um lugar onde possa crescer. Quando descobrir isso, você vai arrasar. PERFIL DE UMA #GIRLBOSS: Madeline Poole, MPNAILS.com (@MPnails) Quando eu era bem nova, antes de descobrir o que gostava, eu queria ser faxineira (porque adorava fazer desenhos no tapete com o aspirador de pó) e jogadora de basquete (porque adorava os uniformes), e queria morar em Connecticut e ter um quarto roxo royal que eu chamaria de “fo-yay”, com sotaque francês. Eu queria ser fabulosa. Algumas coisas mudaram, mas eu ainda me esforço pela “fabulosidade”. Eu sabia que não queria me preocupar — eu queria uma vida antenada e inspirada de forma criativa, em que o dinheiro não fosse a minha primeira preocupação. Eu tive inúmeros empregos, geralmente criativos, mas sempre na escala inferior do organograma. Embrulhei presentes numa joalheira, servi sorvetes de casquinha, dei aula de natação, cortei bagels , trabalhei num café e em alguns restaurantes. Fiz restauração de cartazes, trabalhei em buffet , fui babá, trabalhei num food truck de sorvete, costurei lantejoulas em faixas de cabelo, costurei etiquetas em camisetas, pintei parede, murais, removi papel de parede, fui assistente de um cenógrafo, de um estilista de comida e de alguns estilistas do tipo O Diabo Veste Prada . Meu pai me deu uma bronca, e a única coisa que pude dizer a ele foi que eu queria ser uma especialista. Qualquer que fosse a coisa em que eu me especializasse, eu faria de tudo para ser a melhor. Eu trabalhava muito, sempre trabalhei, e, finalmente... vi uma moça pintando as unhas de uma modelo num estúdio de fotografia e pensei: Eu seria muito boa nisso! Saí dos meus vários trabalhos de meio período e me matriculei na escola de esteticista mais barata de Los Angeles. Eu estava no meu momento mais estressante e pobre, sentada sob uma luz fluorescente, usando uma máscara para pó, observando uma moça brega fazer uma demonstração de maquiagem com airbrush numa cabeça de plástico. Mas sempre soube que ia dar certo. Agora eu sou manicure freelance em sessões de fotografia editoriais e comerciais, desenvolvo produtos para as unhas e trabalho em muitos projetos criativos que tenham alguma coisa a ver com unhas. Resumindo, sou uma expert . Quando não estou trabalhando, ainda estou trabalhando. Estou sempre observando, tirando fotos de estampas e cores que vejo nas ruas, rabiscando ideias, conhecendo pessoas novas, pesquisando sobre a minha área, experimentando novos produtos, conversando com minhas colegas manicures, trabalhando no meu site , atualizando as minhas contas nas redes sociais, trabalhando nos meus próprios produtos ou em projetos colaborativos, montando painéis de referência visual ou esboçando novos planos. Estou trabalhando na minha arte e no meu negócio não porque eu me sinta obrigada a isso, mas porque eu adoro. Eu sempre tive que trabalhar duro pois não tinha outra escolha, mas sempre acreditei em mim mesma. Eu sempre soube que seria uma #GIRLBOSS. [image: ] [image: ] O caminho reto e estreito não é o único para se chegar ao sucesso 4- Furtos em Lojas (e Pegar Carona) Salvaram Minha Vida 4 Furtos em Lojas (e Pegar Carona) Salvaram Minha Vida Nós chutamos uns traseiros, retomamos e recuperamos a nossa vida. Tudo entrou no lugar certo quando decidimos que a nossa vida era para ser vivida. A vida serve àquele que corre riscos. — Evasion E u não lembro qual foi a primeira coisa que eu roubei. No entanto, me lembro (sem nenhum orgulho) que isso aconteceu muitas vezes. A certa altura, alguém tentou me recrutar para furtar um MacBook da Apple para ele e foi quando eu me dei conta de que, putzgrila, estava com fama de ladra. Existem muitas coisas pelas quais eu gostaria de ser conhecida (fazer som de pum no sovaco, fotografia, meus lendários passos de dança), mas ser fabulosa para furtar coisas em lojas não é uma delas. Eu não sinto orgulho dessa fase da minha vida. E ela está tão distante de quem eu sou agora que às vezes parece surreal. Recentemente, fiz uma reunião com executivos da Nordstrom e, dias depois, uma reunião com o CEO da Michael Kors. E o tempo todo, durante essa última reunião, fiquei pensando: Meu Deus, eu roubei um relógio Michael Kors numa Nordstrom aos dezessete anos... Esses foram os meus anos perdidos e houve dezenas de vezes em que eu poderia ter estragado o meu futuro de forma irreparável. É um milagre que isso não tenha acontecido. Sobre anarquismo, por um instante A quantidade de liberdade que uma pessoa alcança é proporcional à inteligência que ela tem para querê-la e à coragem que emprega para conquistá-la. — Emma Goldman Durante a segunda metade da minha adolescência, eu estive bastante perdida. Embora sempre soubesse quem eu era e me recusasse a fazer concessões, eu não fazia ideia do que queria. Eu estava disposta a experimentar quase qualquer coisa, mas o meu desejo incessante de rejeitar tudo simultaneamente criava um paradoxo desafiador. Outra forma de descrever essa atitude seria “imaturidade”. Quando eu ainda estava morando com os meus pais, fazia a viagem de Sacramento até a Feira do Livro Anarquista de São Francisco todo ano. Como você pode imaginar, eu ouvia muita música agitada nessa época. Aos quinze anos, eu descobri o disco do Refused, The Shape of Punk to Come , que me chamou a atenção para Guy Debord e os situacionistas. Eu já havia me interessado fortemente por Emma Goldman e frequentava um grupo de estudos marxista no qual eu e os meus amigos éramos os únicos com menos de quarenta anos. Como eu disse antes, quando adolescente, eu achava que a vida era horrível e que a minha vida em especial — “oprimida” pela escola e pela vida nos bairros residenciais — era horrível. Os ideais do anarquismo eram perfeitos para mim. Eu acreditava que o capitalismo era a fonte de toda ganância, desigualdade e destruição do planeta. Eu achava que as grandes corporações estavam dominando o mundo (o que agora sei que fazem mesmo) e que, ao utilizá-las, estava sendo conivente com a maldade delas (o que é verdade, mas uma garota precisa pôr gasolina no carro). Eu queria viver fora da estrutura capitalista, viver livre, viajar livremente e existir fora do estilo de vida de trabalhar das nove às cinco. Eu era como um velho hippie barbudo preso no corpo de uma adolescente. Eu queria viver de forma espontânea e estar em lugares ousados com pessoas ousadas, tendo momentos ousados. Deixe-me lembrá-la que eu era ingênua a ponto de achar que eu poderia viver assim pelo tempo que quisesse. Mas lembrar dessas coisas agora me faz sentir medo por aquela adolescente do mesmo jeito que uma mãe sentiria por uma filha que estivesse fazendo o que eu fazia. Aos dezessete, antes mesmo de terminar o ensino médio, saí de casa. Meus pais estavam no meio do processo de divórcio e ocupados em desfazer duas décadas de casamento, sem poderem manter a minha segurança. Embarquei no meu sonho de uma vida aventureira, passando por tantas experiências diferentes quanto possível. Fui vegan . Fui freegan . Viajei de carona para o Earth First! Um encontro no meio da floresta, onde comi cogumelos mágicos e vi as pessoas botarem fogo num pentagrama feito de gravetos. Eu me recusava a comprar madeira nova, indignada demais com a falta de consideração do capitalismo com a sustentabilidade. Eu mobiliava os lugares onde morava com uma mistura de coisas que achava na rua e mercadorias furtadas. Eu encontrava coisas no lixo da Krispy Kreme, tinha pelos nas pernas e namorava um cara que morava numa casa na árvore. [image: ] Não fale mal de um bagel achado em uma lata de lixo até provar um. [image: ] Embora tudo isso possa parecer radical, não parecia na época. Eu havia me sentido uma estranha a vida toda, em todas as escolas e em todos os empregos, e finalmente desistira de encontrar um lugar do qual eu fizesse parte. O desconforto era o estado em que eu mais me sentia à vontade. O Sol Saiu, Pés pra Fora Mas se esses anos me ensinaram alguma coisa foi isto: você nunca pode fugir. Jamais. A única saída é para dentro. — Junot Díaz Quando eu tinha dezessete anos, decidi viajar de carona até Olympia, Washington. Joanne, minha companheira de viagem que eu conhecia há um total de vinte e quatro horas, e eu ficamos paradas no acostamento da rampa de acesso para o centro de Sacramento, segurando uma placa de cartolina. A primeira pessoa que nos levou foi um russo chamado Yuri, que dirigia um pequeno Honda com uma janela de trás estourada e a coluna de direção rebaixada. Em termos criminais, o carro provavelmente era roubado. Nada de mais, certo? Nada de estranho nisso. Eu estava com um canivete no cinto (era para cortar maçã!) e, além disso, éramos invencíveis. Atenção: Por favor, nunca, jamais faça qualquer uma das idiotices de que eu falo neste capítulo. Perguntamos a Yuri para onde ele estava indo e começamos a ficar desconfiadas quando ele disse West Sacramento, por onde já havíamos passado e que estava a muitos quilômetros para trás na rodovia. Após algumas negociações, ele finalmente concordou em nos deixar em Redding, que pelo menos ficava no caminho de onde estávamos indo. Então ele tentou alterar o combinado. — Por amor? — ele disse. — Não! — eu respondi, com um gritinho agudo, enojada demais para sentir medo. Exigimos que ele nos deixasse sair e ele começou a pedir desculpa de imediato. Mas se o carro com ligação direta, por algum motivo, não nos alertou para o fato de que ele era um cara sinistro, a mudança do combinado com o “por amor” deixou pouca dúvida. Yuri nos deixou num posto de gasolina, ainda pedindo uma profusão de desculpas num inglês capenga, e foi assim que nos vimos presas na saída de uma cidade chamada Zamora, com as mochilas e sem nenhum estabelecimento à vista. Olhei ao redor e vi dois carros abastecendo, mas os dois eram reprodutores (também conhecidos como famílias), que qualquer mochileiro sabe que não deve abordar. Havia uma grande jamanta parada na rampa de acesso, então, imaginando que seria a nossa melhor opção, fui até ela e bati na cabine. Um cara grande chamado James abriu a porta e nos informou que estava a caminho de Eugene. Parecia ser perto o suficiente de Olympia, e porque não tínhamos outra opção, entramos. James era do Sul e estava com o filho de um amigo, porque estava ensinando o garoto, nas palavras dele, a “dirigir caminhão”. Quando pegamos a estrada, Joanne — que era uma idiota total e completa — perguntou a James se podia usar o celular dele, que em 2002 era um Nokia gigante. Ele disse que sim, claro, desde que ela fizesse uma massagem nas costas dele, e ela fez! E é claro que, assim que ela terminou, ele mudou de ideia. Ele disse que ela não poderia usar o celular dele, mas que pagaria para ela usar um telefone público. Ela ficou muito chateada e eu fiquei ali, revirando os olhos e pensando: Sua idiota, é por isso que não se faz massagem nas costas de estranhos! A essa altura, eu provavelmente nunca havia tocado o púbis de alguém, então não havia absolutamente como entender essa doida com quem eu estava viajando. Por lei, os caminhoneiros têm que parar a cada período de tantas horas para dormir — lei que evita que consumam anfetamina parar ficarem acordados dias a fio. O caminhão de James era enorme e tinha beliches de plástico, como os de prisão, nos fundos. Ele parou ao lado da estrada e delineou rapidamente o modo como iríamos dormir. — Ela fica com ele — ele disse, apontando para a minha companheira bocó de viagem e o amigo dele, depois para mim: — E você fica comigo! — James já havia me dito que sentiu atração pelas minhas pernas peludas, o que achei revoltante já que, para começar, um dos motivos para eu ter pernas peludas era manter os homens longe de mim. — De jeito nenhum! — eu disse. — Nós duas dividimos uma e vocês usam a outra! — Eu não vou dormir com homem. — Ele deu uma risadinha, expressando sua repulsa. — Bom, eu não vou dividir uma cama com você! — respondi, e informei que, se necessário, eu ficaria sentada no chão, esperando. James não gostou do que eu disse e nos obrigou a decidir: Fazer o que ele queria ou dar o fora. Pela segunda vez, nos vimos na beira da estrada, sem nada além de canivetes, mochilas e uma lanterna. Eram três da madrugada e estávamos paradas no acostamento de uma rodovia, ao lado de uma montanha no sul de Oregon, a 30 km da saída mais próxima. Joanne era muito bronzeada, como uma andarilha ou uma habitante de Maui. Eu nem sei como ela conseguiu esse bronzeado, mas não vem ao caso. Sugeri que a nossa opção mais segura seria abrir os nossos sacos de dormir na floresta até amanhecer, mas, idiota que ela era, rejeitou a ideia, explicando que tinha “medo de animais”. Medo de fazer massagem nas costas de um maluco gigante ela não tinha, agora de um cervo bebê encostar o focinha nela, parecia que sim. Tendo as nossas lanternas como as únicas luzes à disposição, fizemos sinal para outra jamanta, que só parou a cerca de cem metros de distância, porque essas coisas são pesadas pra caramba. Corremos na escuridão para vermos que surpresa iríamos encontrar atrás da porta número três. [image: ] Seattle, onde passei quase tanto tempo cortando o meu próprio cabelo quanto passei furtando, em 2002. O episódio seguinte parecia mais simples: só o motorista e o seu cão imenso e babão. O homem era fanático pela Bíblia, não parava de falar de Jesus e batia no cachorro sempre que ele latia. Ele nos contou que a sua mãe era prostituta e que o seu irmão incendiou uma casa aos cinco anos. Ele era bem doido, mas pela primeira vez na noite toda estávamos andando com alguém que não estava interessado no proverbial “amor” de Yuri. Hum, isso foi um alívio. E a viagem ficou melhor quando o sol nasceu e o motoris